Domus Petra

Ah, meu Brasil!

Ah, meu Brasil!

É certo que sendo uma Democracia devemos ficar ao lado da maioria vencedora, e que no calor da emoção da derrota surgem desabafos equivocados, radicais e improcedentes.      

É certo também que, como cidadãos de bem, não devemos permitir e muito menos fomentar o preconceito racial, o ódio entre as classes ou entre regiões do país.                                             

E é certo ainda que o cenário que vivemos no Brasil não é dos melhores e o desafio que nos aguarda tende a ser cada vez maior.

Muita gente tem se pronunciado com discursos moralistas, apaziguadores, do tipo: está tudo bem, já passou, vamos olhar para frente, etc. e tal. Outros, iludidos, não acreditam que o país esteja dividido, e que isso é apenas queixa de uma elite insatisfeita, e assim por diante.

Bem, segue a minha opinião sobre isso tudo:

Em primeiro lugar penso que o país está dividido sim. E essa divisão não é de agora, pós-eleições 2014. Essa divisão não é também entre Nordestinos e Sulistas, Norte e Sul, ou qualquer estado ou região. Tampouco é entre ricos e pobres, homossexuais e heterossexuais, ou qualquer outra categoria que se queira supor.

A divisão a que me refiro, e que tem ganhado força ultimamente, é a divisão entre o malandro e o trabalhador. É a divisão entre a cigarra e a formiga (da famosa fábula). É a divisão entre as pessoas que querem um país decente e as que preferem o “oba-oba”, entre as que batalham incansavelmente por uma país melhor e as que usufruem das benesses do trabalho de outros, muitas vezes de forma ilegal, e na maioria delas de forma imoral.

Vejo uma nítida divisão entre pessoas, de um lado, honestas, íntegras, cumpridoras dos deveres e obrigações, pagadoras de impostos, que estudam a noite e nos fins de semana, que criam, que geram, fazem o algo a mais, que são voluntárias e que abrem mão de um benefício particular em prol do coletivo, e que acima de tudo sonham pelo fim da corrupção. E do outro lado estão pessoas que já se renderam ao “jeitinho brasileiro” de levar vantagem em tudo, que consideram a corrupção algo normal, que se orgulham de fazer uma mutreta ou qualquer outra corrupção corriqueira, que não cumprem regras, nem leis, nem pequenas atitudes de boa convivência como não furar uma fila.

E no meio desse “fogo cruzado” existe uma terceira categoria inerte, sem opinião, sem poder de reação, alienada e manipulável. E considerando que todo sistema tende ao menor esforço, as pessoas dessa categoria são facilmente seduzidas pelo caminho mais fácil, pelo ganho no curto prazo, pelo levar uma vantagenzinha, afinal “todo mundo” faz isso.

O grande problema, e que acredito ser o pivô de tanta indignação, é que a “formiga” está de saco cheio. Deu prá bola! Chega! Basta! Enough! Há um nó entalado na garganta.

Já é hora de a “cigarra” começar a se coçar e ir ao trabalho, gerar seu próprio ganho.

A sensação de injustiça, de desigualdade, de “dois pesos e duas medidas” tem se tornado muito evidente e isso é algo terrível. E o que tem causado revolta é que o atual governo (agora reeleito) enche de moral a cigarra ao mesmo tempo que sacrifica e esfola a formiga. E pior, fomenta o ódio da cigarra para com a formiga ao difamar, censurar e criticar justamente quem gera a maior fatia de riqueza do país. É justamente esse governo maldito que tem lançado a semente do ódio e agora quer posar de “bom moço” promovendo a união, blá, blá, blá... É repugnante e nojento todo esse discurso.

Querer unir essas duas “culturas” sem atuar na causa raiz do problema nos enfraquece, pois o nivelamento acaba sendo por baixo e predomina a mediocridade. O remédio eficaz é amargo e pouco populista. O remédio eficaz passa por mudanças drásticas, polêmicas e que não “compram” votos. E não será esse atual governo, que tem um nítido projeto de perpetuação no poder ao invés de um projeto de Nação, que o fará.

Lamentável!

É óbvio que os programas sociais possuem seu papel importante. Claro que nem todos beneficiados são “cigarras”. E é claro que reduzir a fome e tirar pessoas da condição de miséria é louvável, prioritário, e em muitos casos a intervenção se faz necessária. Mas há muita coisa errada nesse processo.

Em termos mais práticos, não há por exemplo coerência entre a taxa de desemprego e a quantidade de pessoas beneficiadas com os programas sociais. A conta simplesmente não fecha. Ademais, os programas sociais deveriam ser temporários, ou estar associados a programas de emprego, a capacitação e geração de oportunidades de desenvolvimento, mas não. Os beneficiados já incorporaram esse ganho no seu dia-a-dia, são dependentes, e economicamente escravizados. Tal qual um animal cevado acomoda-se ao receber a comidinha diariamente perdendo a inciativa própria e até atrofiando as habilidades, muitos dependentes desses programas do governo estão simplesmente acomodados e não saberiam sobreviver por si só.

Como disse Benjamin Franklin “o trabalho dignifica o homem”, e onde entra a dignidade em tudo isso? Não me refiro aqui ao ato de tirar a pessoa da miséria e da fome, mas da falta de gestão, de coerência e de propósito nesses programas em dignificar as pessoas e “ensinar a pescar”.

Voltando ao tópico da divisão que há no Brasil, é inegável que há uma absurda diferença cultural entre algumas regiões do país.

Como justificar, por exemplo, que em uma região o povo fique semanas em festa de Carnaval, com apoio, incentivo e até subsídio do governo. E em outra região desse mesmo país o povo esteja trabalhando com afinco todos os dias, entregando pelo menos quarenta por cento da riqueza que gera para o governo, sem o mínimo de retorno?

Como justificar o fato de que várias empresas brasileiras e até multinacionais, ao tentarem se instalar em cidades do Norte e Nordeste tiveram que retroceder por não encontrar mão de obra interessada em trabalhar com registro em carteira?

Vou compartilhar um caso real do meu amigo Ronaldo (nome fictício) que mora em Paraíba:

“Ronaldo é um empresário e também consultor de empresas. Ele tem uma empregada doméstica que trabalha muito bem, e que vai de duas a três vezes por semana limpar a casa dele. Recentemente ele quis registrá-la, mesmo sabendo que sairia mais caro devido a carga de impostos. Enfim. Ao abordar o assunto com Maria (nome também fictício) Ronaldo ficou muito surpreso e desapontado quando ela afirmou categoricamente que não desejava ser registrada, pois não queria perder o benefício do Bolsa Família. Conversando mais sobre o tema, Ronaldo descobriu ainda que o marido de Maria também recebe outra cota de benefício, também do Bolsa Família. Mas como é isso possível? Simples: O marido também trabalha de forma ilegal e há um tempo eles se divorciaram (apenas no papel), podendo então, de forma imoral, acumular os dois benefícios.”

Espertinhos né? Esse é um simples exemplo, dentre tantos outros similares.

O que ser precisa então é muita gestão e controle para separar o que é falta de condições ou necessidade, e o que é falta de vontade de trabalhar, ou melhor dizendo, malandragem.

Ah, isso só acontece no Nordeste? Óbvio que não. Malandros de toda natureza estão espalhados pelo país. Eu mesmo tenho um vizinho que se enquadra nessa categoria. Assim como gente honesta, ordeira e trabalhadora também há em todos os lugares. Mas devemos reconhecer que há lugares onde a “cultura” é mais propensa à vida mansa e há lugares onde a “cultura” é focada no trabalho. Ignorar isso em um país continental como o nosso, e com tantas estatísticas e exemplos gritantes, é no mínimo um erro grosseiro.

É evidente que essa “cultura maldita” da malandragem e corrupção não foi implantada exclusivamente pelo PT. Assim como é também evidente que o PT, especialmente estando no poder, tem reforçado o mote da desonestidade, da sacanagem, da legitimação da corrupção, da mentira sem o menor escrúpulo, e tem dado inúmeros exemplos de pura apologia a ignorância. Estamos retrocedendo em questões elementares e neutralizando os fatos com estatísticas manipuladas.

No vocabulário desse Brasil que está se formando faltam palavras como: trabalho árduo, meritocracia, estudo, disciplina, responsabilidade, ética, educação, entre tantas outras.

Então eu me faço algumas perguntas:

- Que tipo de país eu quero viver e ajudar a construir para meus filhos e netos?

- Qual será o legado que essa minha geração deixará para as próximas? Será o legado de um bando de covardes e “bundas moles”, conformados e acomodados; Ou será o legado de pessoas que fizeram a diferença e tiveram a ousadia e coragem de mudar os rumos de uma nação?

De verdade gente, sem querer ser dramático ou sensacionalista, e muito menos preconceituoso, está bem complicado! Por um lado, é quase que uma ilusão esperar que algum político se esforce de verdade para resolver os problemas. E por outro, é sabido que é somente pela via política que acontecem as mudanças. Então, as opções são bem restritas mesmo.

Alguns amigos, nesse exato momento, estão pesquisando alternativas de colocação profissional em países como a Suécia, Nova Zelândia e Canadá. E confesso que eu mesmo já dei uma pesquisada de domingo à noite para cá.

E que tal se uma quantidade expressiva de “formigas” competentes e produtivas daqui se mudarem para outro “ninho”? Acreditem, isso já está acontecendo.

E até já ouvi um buchicho por aí: “Pois que vão embora mesmo.”

Bem, eis aí uma das faces ocultas do ódio já instaurado.

Por falar em ódio entre classes, vou encerrando essa reflexão dizendo o seguinte: é nítido e notório que foi nesses anos de PT que o país ficou mais dividido. Conseguiram ressuscitar o preconceito racial no Brasil, implantaram uma aversão à classe média (um absurdo), e fomentaram o rótulo da “elite branca”. Geraram divisão das mais variadas classes e categorias. Desconstruíram nossa identidade enquanto brasileiros. Até a paixão pelo futebol que nos unia, pelo menos em tempos de Copa, nos foi tirada. Dilma e seus militantes passaram a campanha falando em “Nós e Eles”, dividindo o país em dois e colocando um grupo contra o outro. E agora, depois de eleita, em seu discurso xexelento de posse tem a audácia de pedir união para a população. Eu diria à ela se tivesse oportunidade: “Escute novamente seus discursos de campanha Presidenta, e se fores um pouco coerente e honesta consigo sentirás no mínimo vergonha de vir falar em união”.

É necessário reconhecer e admitir que duas das estratégias usadas pelo PT, famosas e milenares, tem se mostrado altamente eficazes ainda nos dias de hoje, que são: a estratégia do pão e circo, e a do dividir para conquistar.

Em tempo, na segunda-feira imediatamente após a eleição do segundo turno, foi divulgada a notícia da provável desvinculação de Dilma e Lula, em mais uma estratégia clara de “blindar” o ex-presidente dos recentes escândalos, desvinculá-lo do tenebroso período econômico que se apresenta e prepará-lo como o “salvador da pátria” para 2018. Nesse aspecto eu espero estar redondamente errado, mas o meu prognóstico é de no mínimo mais 12 anos de PT. E se isso acontecer, vai dar PT...

Aproveito para deixar uma dica: Nova Zelândia tem me parecido uma boa opção.

E para aquelas “cigarras” raivosas que me disserem “vais tarde”, caso um dia eu realmente decida sair do Brasil, eu lhes responderei com um sorriso, “boa sorte, pois vais precisar”.

Abraços de um patriota apaixonado pelo Brasil, não esse brasil que está se configurando mas o BRASIL que podemos e já deveríamos ser.

Fabiano Dell Agnolo.