Domus Petra

Loucos por Vantagens!

Loucos por Vantagens!

"O caso Queiróz" 

Chocado e assombrado com a falcatrua astutamente articulada pelo dito empresário Marcos Queiroz, aplicada sobre vários cidadãos de bem em Joinville, me perguntei: Como foi possível esse sujeito sem escrúpulos enganar tanta gente? 

Em meio a tantos pensamentos ponderei: “Esse nosso modo de vida radicalmente baseado no dinheiro e no consumo, aliado a eventos e fatores característicos da era moderna como a supremacia da televisão, o refino das propagandas e a supervalorização do Ter em detrimento do Ser, tem levado a sociedade a uma espécie de loucura. Vive-se certa insanidade na busca desenfreada por adquirir, e adquirir mais, e adquirir ainda mais, e sempre mais e melhor”. 

Bem, até aí nada de novo! Essa conversa já virou filosofia de bar. 

O que talvez se observe de novo é que essa “condição”, ou “modo de vida”, tem suprimido o pensamento crítico, o raciocínio lógico, a razão propriamente dita. O que, por sua vez, tem levado as pessoas a estarem cada vez mais ávidas por barganhas, ótimos negócios, vantagens e grandes lucros, independentemente muitas vezes, de “como” obtê-los. 

Já está meio que na nossa cultura a necessidade de se ter a sensação de levar vantagem nos negócios. Buscamos sempre encontrar uma pechincha ou uma “galinha morta”, como se diz. E é exatamente nesse cenário que espertalhões como Queiroz ganham espaço e encontram em pessoas trabalhadoras, honestas e comuns, a chance de um novo calote. 

Agosto de 2013 ficará na história para mais de 200 cidadãos de bem da nossa cidade, que hoje estão correndo o risco de verem seus suados recursos simplesmente desaparecer em uma possível "mega-operação” de estelionato, entre outras fraudes. 

O que se espera é que se faça justiça, e que se possível sejam minimizadas as perdas. 

Mas, continuemos a reflexão. Como diz um ditado popular, “não há almoço grátis”. 

Juntemos então alguns fatos: O dito sujeito vendia imóveis (nesse caso apartamentos) bem abaixo do preço praticado no mercado, aceitava como entrada um carro, pagando valores até vinte por cento acima da tabela, e na sequencia vendia esse mesmo carro com valores até vinte por cento inferiores da mesma tabela. 

Espere aí! Não precisa ser nenhum gênio da matemática para saber que a conta não bate. Certo? Mas, cadê a razão nessa hora? Onde foi parar o senso crítico, o raciocínio lógico? 

“Sei lá, você acha que vou perder uma oportunidade dessas?”, talvez respondesse algum desavisado. 

Pois é. Está tudo bem procurar bons negócios, pesquisar preços, comparar fornecedores. Tudo isso é inteligente e louvável. O que não dá é para esperar que algo muito barato tenha elevada qualidade, segurança e garantia. Simplesmente não tem lógica. Não dá para fazer “milagres” na matemática e nas finanças. 

Eu costumo dizer que caro não é necessariamente sinônimo de bom, tampouco barato é sinônimo de ruim. Agora, muito dificilmente o que é bom, e principalmente o melhor, será o mais barato. A qualidade tem lá seu valor agregado, e isso, naturalmente, implica em custos adicionais. Simples assim! 

Eu cresci em meio à construção civil, e até hoje acompanho meu pai na construção de casas de alto padrão. Já vi de perto algumas histórias com final triste nesse setor. 

Para ilustrar, vou compartilhar um exemplo bem comum. 

O cidadão decide construir a sua “casa dos sonhos”. Aquela casa, que atenderá todos os seus anseios de moradia, onde ele criará os filhos e por que não os netos. Ele então planeja, economiza, estuda, calcula, e por fim projeta a tão sonhada casa. Aí escolhe os melhores materiais, capricha nos detalhes, pesquisa modelos e assim por diante. Afinal, é a casa própria e ele deseja o melhor. 

Mas, quando chega na hora de contratar o construtor, ele acha por bem barganhar preço. E como o setor é totalmente corrompido e desordenado, surgem rapidamente inúmeras alternativas com preços realmente atrativos. Depois de fazer algumas contas ele chega à conclusão de que talvez vá faltar dinheiro, e o que ele decide? Contrata o mais barato. 

Lá se foi outro cliente hipnotizado pelo preço baixo. 

"Tudo bem", digo ao meu pai, "perdemos esse negócio, mas não há problema. Sempre haverá quem valorize a qualidade, a segurança e a garantia". 

Agora só resta assistir o fim trágico desse empreendimento. E para encurtar o exemplo vou citar apenas alguns dos vários prejuízos que aparecerão, isso se a obra for concluída. São eles: desperdícios de materiais de toda natureza; execução incorreta do projeto gerando retrabalhos, insatisfação, atrasos e mais desperdícios; redução do valor do imóvel devido à má qualidade final; e os mais variados problemas técnicos que surgirão na forma de desagradáveis surpresas ao longo dos anos. 

Dramatizei muito? Pode ter certeza que não. Exemplos como esse, em vários setores da economia são corriqueiros. 

Como eu disse em certa ocasião: “Você está achando caro contratar uma equipe de profissionais? Experimente contratar amadores”. 

Antes de decidir onde colocar seus recursos pense muito bem, busque a lógica e a razão, ouça profissionais no assunto e não se esqueça de considerar o longo prazo. 

Não se deixe hipnotizar por propostas milagrosas. Na matemática, dois mais dois são quatro, e ponto final. E se tratando de dinheiro, alguém sempre pagará a conta! 

Tem gente que prefere pagar para ver. Bem, que não seja eu nem você! 

Sucesso! 

Fabiano Dell Agnolo. 

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